2- Tópicos para discussão de “Vídeo, filme e fotografias como documentos de pesquisa”, de Peter Loizos.

1 – O autor afirma que, muitas vezes, é possível obter as mesmas informações alcançadas no registro visual utilizando meios mais simples, como a escrita. Aponte situações em que a gravação é imprescindível para a pesquisa social.

2 – Quais ações devem ser tomadas antes de realizar um registro visual para fins de pesquisa?

3 - No Texto, Peter Loizos diz que o “visual” e a “mídia” desempenham importantes papéis, e que não podem ser ignorados, pois tornaram-se “fatos sociais”. Com as mídias sociais em ascensão, associada a milhões de pessoas com smartphones e câmeras digitais, muitas imagens tem sido compartilhadas, sobre todo tipo de coisa.
Na última semana uma imagem foi considerada como uma foto histórica, feita pela jornalista Gisele Arthur. Na imagem, vemos políticos participando de um coquetel, enquanto manifestantes contra a PEC 55 estavam ao lado de fora do vidro recebendo bala de borracha da polícia. Essa imagem foi considerada muito simbólica.
A autora da foto disse que foi vítima da internet e pelas justificativas que fez em torno do momento da captura, percebe-se que ela não é uma ativista de esquerda que, com a fotografia, pretendia fazer uma denúncia sobre um possível descaso da classe política com relação aos manifestantes.
Partindo desse exemplo, vocês acham que a informação adicional dada pela autora, pode influenciar na percepção de um pesquisador sobre essa imagem ou a primeira impressão da fotografia dificilmente será alterada?
Simplificando: até que ponto um texto descritivo sobre uma determinada imagem pode influenciar um pesquisador em sua análise?
Que outras considerações podemos fazer a partir dessa imagem?

Todos sabem a que foto nos referimos no tópico 3?
http://www.ocafezinho.com/wp-content/uploads/2016/11/CydqxssWIAEuE99-e1480509816381-740x634.jpg

3 - Já dizia o poeta, uma imagem vale mais que mil palavras. Independente da intenção da pessoa que fez a fotografia, esta possui um poder simbólico que supera a relação de autoria.

A gravação se faz imprescindível quando é preciso capturar elementos além da fala principal do entrevistado, como por exemplo, o seu tom de voz, a duração das palavras, e até mesmo expressões faciais e outros elementos paralinguísticos.

3- Excelente exemplo! Bom, não me parece que a autoria da foto, assim como as intenções de quem tirou, sejam os fatores mais significativos na produção de sentido... A questão é a recepção da foto (caiu na internet já é domínio público e, portanto, infinitos usos e manipulações da imagem acontecem e acontecerão). O pesquisador que analisar a foto certamente irá, ele mesmo, descrever pontos relevantes, como o contexto histórico, a situação, o atrito/ a paz, as classes sociais etc. A autora da foto "se justificar" diz mais sobre ela do que da foto em si, pois essa justificativa delimita sua posição social dentro deste "deplorável evento", simbólico do "naipe" do governo temerário aqui instalado. Em suma, o impacto de um texto descritivo sobre a foto deve passar pelo filtro do pesquisador que irá analisar a foto; portanto, não me parece tão preocupante.. aliás, mais material para análise, né? rsrs

Verdade, Renan. Não tem como afastar a simbologia dessa imagem.

Em relação ao número 3: creio sim, que um texto associado a uma imagem possa modificar a percepção de quem a vê. Tanto que é muito comum vermos uma mesma foto circulando pelas redes sociais e causando reações completamente diversas, dependendo da legenda que a acompanha.

Concordo com o Daiman.

Daiman Oliveira escreveu:A autora da foto "se justificar" diz mais sobre ela do que da foto em si

Precisamente, Daiman.

(1) Eu fico pensando, por exemplo, em pesquisas que envolvam a prosódia (como as que a Leandra e o Naaman fazem). A gravação é imprescindível, certo? Mesmo que vocês não trabalhem necessariamente com os gestos, assistir às gravações é importante, não é?

Sinto ódio quando vejo essa imagem. E quando leio as falas da jornalista sinto ainda mais raiva. Acho que existe interferência, sim. Mas não se sabe de qual natureza, é difícil dizer. Pensemos, por exemplo, em um pesquisador que estava lá fora e um outro participando do coquetel. É possível afirmar com certeza que terão uma percepção diferente ou inabalável da fotografia? Existe, é inegável, um contraste ali representado que tem algo a dizer. Mas a intenção do fotógrafo, no momento de captura, é algo com o qual não podemos contar, a não ser que ele queira dizer. E mesmo que ele diga, a nossa experiência pode ser outra. Certo? Talvez o pesquisador, ao adotar como objeto uma imagem, um vídeo ou uma fotografia, deve considerar diferentes leituras, perceber o que se fala, de onde se fala...
Só consigo ver abismos ao tentar elaborar considerações sobre a imagem...

Como aponta o autor, o vídeo tem a função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivelmente por um único observador enquanto ele se desenrola.

Há vários tipos de pesquisa que não podem prescindir desse registro: quando se pensa na linguagem de sinais, por exemplo. Nos estudos multimodais da prosódia, nos estudos que pretendem buscar traços sócio-histórico-culturais de determinada época por meio de filmes. Ah, o Manicômio de Barbacena, por exemplo, tem vários registros visuais, por isso a maioria dos estudos que o tem como objeto, parte das análises dos vídeos e das fotos.

Daiman Oliveira escreveu:3- Excelente exemplo! Bom, não me parece que a autoria da foto, assim como as intenções de quem tirou, sejam os fatores mais significativos na produção de sentido... A questão é a recepção da foto (caiu na internet já é domínio público e, portanto, infinitos usos e manipulações da imagem acontecem e acontecerão). O pesquisador que analisar a foto certamente irá, ele mesmo, descrever pontos relevantes, como o contexto histórico, a situação, o atrito/ a paz, as classes sociais etc. A autora da foto "se justificar" diz mais sobre ela do que da foto em si, pois essa justificativa delimita sua posição social dentro deste "deplorável evento", simbólico do "naipe" do governo temerário aqui instalado. Em suma, o impacto de um texto descritivo sobre a foto deve passar pelo filtro do pesquisador que irá analisar a foto; portanto, não me parece tão preocupante.. aliás, mais material para análise, né? rsrs

Pois é, vi na justificativa dela apenas uma tentativa de limpar a sua barra por conta do trabalho que presta... não imaginou ao publicar a imagem, que a repercussão seria tão grande.

Naaman Mendes Lataliza escreveu:Como aponta o autor, o vídeo tem a função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivelmente por um único observador enquanto ele se desenrola.

Há vários tipos de pesquisa que não podem prescindir desse registro: quando se pensa na linguagem de sinais, por exemplo. Nos estudos multimodais da prosódia, nos estudos que pretendem buscar traços sócio-histórico-culturais de determinada época por meio de filmes. Ah, o Manicômio de Barbacena, por exemplo, tem vários registros visuais, por isso a maioria dos estudos que o tem como objeto, parte das análises dos vídeos e das fotos.  

Falando sobre o Manicômio de Barbacena, aproveitando que Naaman trouxe esse assunto: vi uma entrevista com o fotógrafo que fez os registros, e ele voltou lá, anos depois, e disse que o lugar (praticamente imundo e em ruínas) era quase o mesmo onde ele havia fotografado pessoas, anos antes. Era naquele cenário absurdo onde elas viviam, e ele comenta que aquele aspecto horrível era o mesmo de quando pacientes moravam lá... Sem as fotos e sem essa impressão do fotógrafo, muito da história se perderia... Coisas que não cabem só na escrita... "É preciso ver, para crer"....

Eu gostaria de fazer um comentário sobre a Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras, e sobre a função do registro em vídeo para as pesquisas em Línguas de Sinais.

Pra gente, que faz pesquisa sobre a Língua Brasileira de Sinais, ter a oportunidade de publicar um artigo em Libras é muito interessante por vários motivos. Mas, para as pesquisas em Linguistica, é fundamental que haja essa possibilidadade já que, muitas vezes, a tentativa de explicar em palavras do português um sinal da Libras (a sua composição ou como ele se relaciona com outros sinais na sentença) pode ser uma tarefa realmente dificil, o que é minimizado se é possível utilizar a própria língua, na tentativa de refletir sobre ela. Em alguns momentos, é imprescindível que o registro seja feito em vídeo.


Pensei em mais uma situação de pesquisa. Atualmente há uma enorme pesquisa no Brasil, que tem como objetivo construir um corpus da Libras. Nesse caso, também é imprescindível que sejam feitas gravações.
Esse é o site desse projeto de pesquisa, pra quem tiver curiosidade de conhecer:

http://nals.cce.ufsc.br/?page_id=71

Em casos como a fotografia do exemplo dado e os comentários de Naaman e Raquel sobre o manicômio, a imagem capta a realidade como, penso eu, a narrativa não mostraria.

Um dos maiores problemas de se trabalhar com vídeo é a dificuldade de analisar grandes conjuntos de dados, se 100 mil pessoas respondem um questionário fechado, em poucos dias esses dados estão prontos para serem analisados, mas se 100 mil pessoas gravam um vídeo de 5 minutos, gastaria quase um ano só para assisti-los.

raquelandrade escreveu:

Naaman Mendes Lataliza escreveu:Como aponta o autor, o vídeo tem a função óbvia de registro de dados sempre que algum conjunto de ações humanas é complexo e difícil de ser descrito compreensivelmente por um único observador enquanto ele se desenrola.

Há vários tipos de pesquisa que não podem prescindir desse registro: quando se pensa na linguagem de sinais, por exemplo. Nos estudos multimodais da prosódia, nos estudos que pretendem buscar traços sócio-histórico-culturais de determinada época por meio de filmes. Ah, o Manicômio de Barbacena, por exemplo, tem vários registros visuais, por isso a maioria dos estudos que o tem como objeto, parte das análises dos vídeos e das fotos.  

Falando sobre o Manicômio de Barbacena, aproveitando que Naaman trouxe esse assunto: vi uma entrevista com o fotógrafo que fez os registros, e ele voltou lá, anos depois, e disse que o lugar (praticamente imundo e em ruínas) era quase o mesmo onde ele havia fotografado pessoas, anos antes. Era naquele cenário absurdo onde elas viviam, e ele comenta que aquele aspecto horrível era o mesmo de quando pacientes moravam lá... Sem as fotos e sem essa impressão do fotógrafo, muito da história se perderia... Coisas que não cabem só na escrita... "É preciso ver, para crer"....

Interessante isso. Eu tive alguma impressão do tipo, quando fui no dia 03 de novembro, até as ruínas de Bento Rodrigues. Muito do que eu havia visto em fotos, não estava mais lá. Ainda há muitas coisas e objetos pessoais dos moradores, mas os registros feitos logo nos primeiros dias da tragédia foram muito importantes pra todo mundo ver a dimensão da tragédia, pois logo tudo será coberto. Mas com as imagens, há muito que pode ser feito em relação à pesquisa.

1 - Penso que em pesquisas no campo da análise da conversação (AC), por exemplo, a gravação (de áudio ou áudio e imagem) dos sujeitos participantes da pesquisa são imprescindíveis. Pois a análise e a argumentação do pesquisador se darão a partir desses dados.

O tópico do terceiro texto a discutir já está no fórum

Izabel Cristina da Silva escreveu:Em casos como a fotografia do exemplo dado e os comentários de Naaman e Raquel sobre o manicômio, a imagem capta a realidade como, penso eu, a narrativa não mostratia

Concordo, Izabel. Eu acho impossível ter uma noção mais realista do que foi a segunda guerra, ou a guerra do Vietnã, ou o caso do menininho Sírio que morreu afogado quando a família tentava fugir, sem fotos. As palavras, por si, não conseguem abarcar o horror. E essa foto que Jana e Dani colocaram como ponto de discussão, prova isso: é olhar para aquela foto para entender e sentir tanta coisa....

Christianne Miranda escreveu:Eu gostaria de fazer um comentário sobre a Revista Brasileira de Vídeo Registros em Libras, e sobre a função do registro em vídeo para as pesquisas em Línguas de Sinais.

Pra gente, que faz pesquisa sobre a Língua Brasileira de Sinais, ter a oportunidade de publicar um artigo em Libras é muito interessante por vários motivos. Mas, para as pesquisas em Linguistica, é fundamental que haja essa possibilidadade já que, muitas vezes, a tentativa de explicar em palavras do português um sinal da Libras (a sua composição ou como ele se relaciona com outros sinais na sentença) pode ser uma tarefa realmente dificil, o que é minimizado se é possível utilizar a própria língua, na tentativa de refletir sobre ela. Em alguns momentos, é imprescindível que o registro seja feito em vídeo.


Pensei em mais uma situação de pesquisa. Atualmente há uma enorme pesquisa no Brasil, que tem como objetivo construir um corpus da Libras. Nesse caso, também é imprescindível que sejam feitas gravações.
Esse é o site desse projeto de pesquisa, pra quem tiver curiosidade de conhecer:

http://nals.cce.ufsc.br/?page_id=71

Chris, show de bola os vídeo-registros de artigos em Libras! Afinal, para os surdos, o principal registro de um texto é o vídeo, né? Já que a escrita está mais (ou totalmente) conectada à língua falada, no nosso caso o português. Achei massa demais saber que há estes registros!